Fumadores (5)

19.10.12
Tantas situações pouco recomendáveis acontecem, graças a Deus, mesmo em frente à Ordem do Terço, na Travessa de Cimo de Vila. Entre elas, quatro cigarros acessos, duas línguas afiadas, quatro gargantas secas. Sai um jarro pintado de tinto. Parte-se um copo no brinde. Cai um quartilho nos paralelos, os pombos descem do telhado, mas logo se apontam outra vez ao céu, porque aquele sangue traz água no bico.  

Finalmente uma boa notícia

12.10.12
Finalmente uma boa notícia: um jornalista desempregado há quatro anos, que vive em casa dos pais, foi chamado pelo centro de emprego para uma oferta de trabalho num jornal regional. Salário: seiscentos euros. Com 32 anos, o jornalista pede dinheiro aos pais para o comboio e diz que para o almoço não é preciso, não vai ter fome. E o salário, bem bom, seiscentos euros, mais do que o salário mínimo. O jornalista passa na derradeira entrevista. É aceite pelo director, um homem que também recolhe porta-a-porta o dinheiro dos anunciantes. Assina um contrato. Está empregado. Tudo corre sobre rodas. Ou nem por isso. Tem de comprar um carro. O jornal não tem carros, não paga gasolina nem quilómetros. O director supreende-se: ó homem então você que ser jornalista e não tem carro próprio? Que raio de jornalista é você? Olhe que isto começa muito mal. Se quer cá ficar, compre um carro. E não me apareça por aí enfiado numa lata velha, que isso dá má imagem ao jornal. Compre um carro novo ou vá embora.
O jornalista está desempregado há quatro anos. Não tem dinheiro para uma entrada e os pais também não. faz um crédito a cem por cento. Escolhe um Renault Clio, versão base. Assina um crédito de 15.400 euros a pagar em 4 anos. A agência  cobra-lhe 382 euros por mês. Quase 60% do salário. O resto vai para a gasolina que o jornal não paga. O seguro, feito a preço de amigo pelo agente amigo do pai, custa mais oitenta euros por mês, que os pais suportam. Com a compra do carro, o nosso antigo desempregado, somando comida e roupa, descontando renda de casa por estar com os velhotes, está agora a pagar trezentos euros por mês para trabalhar, mas pelo menos está empregado.

( no meio de tudo isto, o que mais lhe custa são os momentos em que as vozes de burro falam do baixo custo do seu Clio)

O que temos aqui é um problema de comunicação

10.10.12
O jogador de futebol Iker Casillas, espanhol, capitão do Real Madrid e da selecção espanhola, chegou à concentração da "Roja" vestido com uma t-shirt branca que dizia França, em francês, uma semana antes do jogo Espanha-França. Gostava de o ver  passear em Madrid com uma camisola do Barcelona... mas a publicidade não chega a tanto. Por baixo de França, havia um garrafal símbolo da Adidas.
O jogador de futebol Miguel Lopes, português, do FC Porto e da selecção portuguesa, chegou à concentração das "Quinas" vestido com uma t-shirt amarelada que dizia, vai-te foder seu caralho, em inglês, dias antes de um jogo de qualifcação na Rússia, não se adivinhado aqui estratégia de marketing.
Haverá problemas onde eles supostamente não existem?

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