Memórias de um verão inédito (2)

28.7.13
O João é o sujeito das nossas frases, de todas elas sem excepção. Mas é mais do que isso. É metade da atenção de cada um de nós, andamos há um mês a almoçar por turnos e ao jantar também só vai à mesa um prato de cada vez. 
O choro do João não traz legendas. Pai e mãe decifram os pequenos códigos conforme podem. Sabem os dois que não vão acertar sempre, não têm como o fazer, mas sabem que vão estar sempre ali, mesmo que seja para não acertar sempre. 
Ele é o relógio das nossas madrugadas, um despertador sem hora marcada, ele acorda como o amor começa, não manda dizer que vem, simplesmente chega e toma conta do assunto. 

Memórias de um verão inédito (1)

25.7.13
O João lá se vai esticando nos seus quatro quilos. A mãe mingou nove meses em Julho. A natureza está a cuidar bem dos dois, não podemos pedir mais. O pai regressou ao trabalho, o trabalho está do mesmo tamanho, mora na mesma casa, sem leite, fraldas ou chupetas. Vinte quilómetros separam a terra da lua, a água do vinho, a noite do dia. O mundo é pequeno, não fala, não anda, não trinca. O mundo come, dorme e às vezes sorri. 

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