FIM-DE-SEMANA COM O CORPO

24.3.14
Receita: acompanhar a música com um chá quente e um dia frio; escolher um livro, andar perto de uma manta; ver o dia em câmara lenta. E já está.


Vampire Weekend – Step (Official Lyrics Video) from Rokkit on Vimeo.

O ENTARDECER SEM FILTRO

23.3.14
Era sábado e era Março.
A noite nasceu primeiro no arvoredo e o resto do anoitecer veio quando as nuvens vieram todas.O sol deixou lembranças nas lâmpadas. Os carros anoiteceram na curva, o rio chegou ao mar destravado. E a ponte ficou à margem.

O ESTRANHO ENCONTRO ENTRE BORJA E BORJA

21.3.14
Quanto mais perto do fim anda o livro, mais o professor Borja consegue ajardinar Rosa e mais dele é a história, pelo menos mais dele é a condução dos factos. O livro insiste que Jesus Cristo bebia cerveja e o professor sofre da mesma insistência.
Pouso o livro a trinta páginas da última página. Em cima da mesa, ao lado do livro, existe uma caixa com duas colheres. As colheres são da marca Borja. Vieram da Suécia. Custam pouco dinheiro. Borja, o professor, e Borja, as colheres, terão diferentes destinos. O do livro há-de acabar em breve, mas o professor ficará na memória durante o tempo que a memória deixar que ele fique. As colheres ainda têm de comer muita sopa antes antes de concluírem a história que vieram contar a esta casa em Vila Nova de Gaia, a cidade que deixa o Porto à distância que o Porto precisa para ser Porto.




CRÓNICAS DA RUA DO MAR (1)

19.3.14
































A última rua do mundo sentou homens e mulheres em cadeiras de praia, deu-lhes refrigerantes, peixe na brasa, fatias de pão com a Itália na ponta da língua, a última rua do mundo calçou o sol, deu ansiolíticos ao mar, deu  vento ao papagaio, a última rua do mundo deu chão a quem chegou e outro chão a quem partiu, e deu, a este Março que ainda vai no meio-dia, a oportunidade de comer dias a Julho e Agosto.

REVISITAR FUMADORES

18.3.14



"E agora que é que eu faço? Morro? Não só não me ensinaram a morrer como eu ao longo desta quinquilharia de anos nunca me deu para aprender a fazê-lo. E morro como? Penso muito numa dor de cabeça, rego a dor todas as manhãs e torno a regar antes de ir para a cama, a ver se a morte me começa a crescer entre as orelhas? Ou é preciso pôr adubo? E deixo a cabeça ao sol ou faço uma estufa com um boné? É que pouco percebo de jardinagem e do sentido da vida ainda menos. Com uma tesoura de poda não. O Senhor pôs-me o sangue no lado correcto do corpo, que é o de dentro, fez bem o Senhor, graças a Deus."

FUMADORES - 2013

OUTRAS PESSOAS

10.3.14
(um ensaio)

Não te ponhas já com os olhos em cima da fotografia, põe-te a comer com a boca o peixe que veio no prato, mas come com a boca fechada, mastiga como quem come as letras do jornal, é de bom serviço o silêncio, a ciência do seu uso.
E não te ponhas a olhar para mim com  olhos do tamanho de um título, as primeiras páginas e as mulheres nuas a seu tempo caducam, por muito que um dia tenham sido a mais oportuna frase do mundo.
Isso, insiste. Fecha os ouvidos como quem escolhe quatro números e encerra no cofre do quarto do hotel o passaporte e as chaves de casa. Isso, ignora. Tapa os olhos com a fotografia de uma ponte acesa a espreitar o lado Gaia da vida.

  

A DEVOLUÇÃO DAS ESPÉCIES

7.3.14


Estivemos em Berna e em Zurique. Estivemos num hotel de largas estrelas na capital da Suíça, entrevistámos o melhor que o mundo deu ao futebol na primeira década deste século e alguns anos antes. Pudemos provar uma cerveja artesanal vermelha no Altes Tramdepot e pedimos carne para acompanhar. Durante os três dias conduzimos um carro preto comprido e confortável, quase não sentimos a estrada, mas também quase não sentimos os suíços, esse povo com cara de poder ser o amortecedor do qualquer coisa no mundo. Viemos embora com chocolatinhos nos bolsos e uma nota de dez francos na carteira, porque nos pediam uma taxa de três francos para a trocar em euros.
Sim, fomos. Sim, trabalhámos. E sim, o mais o importante é que viemos e que cá estamos, de novo, dentro do melhor retrovisor de Portugal.

AddThis