Chamadas telefónicas (1)

10.8.12
O telefone de um jornalista morre quase todos os dias.
O meu já não morria desde o dia 29 de Julho, foi num domingo ao fim tarde, estavamos nós a lidar com touros e cinquenta protestantes taurinos ao largo de uma arena montada para o efeito de uma corrida na Trofa.
Saiam já daí, disse quem nos ligou. Está um rapaz desaparecido no areeinho de Gaia! O telefone morreu deviam ser seis da tarde e ficou morto até hoje.
Hoje, igualmente às seis da tarde, o telefone voltou a morrer, desta vez no jardim de Teófilo Braga, na Praça da República, no Porto, andava a reportagem a fazer perguntas a cinquenta professores insatisfeitos de uma coisa chamada plataforma pela educação. Fomos embora porque nos disseram saiam já daí, está um rapaz desaparecido na praia de Miramar, em Gaia.
A esta hora, o telefone está aqui quieto e desespero-me porque sei que não vai ficar morto para sempre.

Esta forma de dizer as circunstâncias da morte é do J.Rentes de Carvalho, e no blogue dele, Tempo Contado , foi onde a aprendi.
O título Chamadas Telefónicas fui buscar a um livro de contos de Roberto Bolaño. O título do blogue pendurou-se nos Últimos atardeceres en la Tierra, do mesmo chileno.

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