Parece que foi ontem

11.8.12
No princípio dos anos 80, o cartão de atleta da Associação de Futebol do Porto dava-nos acesso ao livre-trânsito , que normalmente ficava no peão das Antas e do Bessa. O lugar não era o melhor parar ver futebol, principalmente a baliza lá do fundo, mas a entrada era gratuita e punha-nos na moldura dos jogos mais importantes da época.
Os cartões, entre nós, desde miúdos e até aos 18 anos, eram, num tempo em que ninguém ainda tinha carteira, o bem pessoal mais valioso, logo a seguir à bola. Se um ou outro amigo adoecia, emprestava o cartão de atleta a quem não tinha, lucrando com isso rebuçados durante uma semana, gasosas, bolos na escola, lápis, canetas, ou pura e simplesmente consideração e amizades.

Nas tardes em que havia um penetra, o coração, que já ia aos saltos com os futebóis - ganhar ou perder na adolescência é vida ou morte- ficava pior que o tambor da máquina de lavar roupa. O sucesso do esquema dependia muito da calma e do tamanho do dedo polegar do penetra, com o qual tapava a foto. Convinha também ter na ponta da língua o nome completo do atleta verdadeiro. Dava jeito quando penetra e atleta eram parecidos, se bem que nos anos 80 e a preto e branco podíamos ser todos irmãos.

Ontem à noite (10 de Agosto) a Associação de Futebol do Porto encerrou o primeiro dia de comemorações do Centenário. O senhor Burns, patrão do Homer Simpson, podia ter entrado na sala, e nem precisava de grandes polegares para se sentar sem ninguém dar por ele na cadeira do presidente.

Na parede/galeria dos antigos presidentes muitos julgarão ter
visto o Marlon Brando, que por muito bom padrinho que tenha sido, sinceramente não o vejo a dominar a bola num gabinete com a mesma facilidade.
Esta questão dos sósias - sósia que o dicionário da Porto Editora define assim: "antropónimo, nome do escravo, pajem de Anfitrião, de quem Mercúrio tomou as feições" - deixa-me outra vez à porta das Antas e do Bessa. Parece que foi ontem.

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