O exemplar número 68

6.6.13
A ideia com que fico, manuseando o livro, é que ele foi feito à mão, até pelo tamanho miudinho da letra do texto. Estou a ver o editor a chegar  a uma papelaria com o ouro que lhe caiu nas mãos, tamanho doze, Times New Roman, em folhas A4, logo traído pelo formato A5 com que o encadernaram, diminuindo-lhe automaticamente a fonte. Estou a ver o editor  a chegar com o desenho da capa, a ver a máquina de corte e a impressora, estou a ver a confecção de um livro nas traseiras do balcão de um centro de cópias, o empregado a trabalhar a edição caseira nos intervalos das monografias, o nome Santiago Gamboa a luzir numa pequena editora (Eucleia) e o editor a pedir 500 exemplares que devem ter ficado por dez euros cada um. 
E eis que me chegou às mãos o exemplar número 68, todos o exemplares são numerados à mão, e eu fico com a lamentável ideia de que desde Outubro de 2012 só foram vendidos 67 cópias do livro Necrópole, um festival literário que passou por baixo dos olhos adormecidos das grandes editoras. O leitor português merece, e precisa, de mais livros de Santiago Gamboa, devidamente encadernados, promovidos e distribuídos. É um grande negócio à espera de acontecer. Devo agradecer, no entanto, e ajoelhado, o tiro no escuro com a luz acesa que Eucleia Editora deu ao apostar na prosa viva de um talentoso colombiano de Bogotá. 

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