PRATO DO DIA - 1

13.2.14

O António de 1984 ia para a cama cedo procurar os melhores sonhos. Os melhores sonhos estavam onde estivesse uma bola de futebol e uma baliza. O António de 1984, para chegar aos melhores sonhos, fechava os olhos contra a almofada e fazia fintas, velhas, e inventava ouras, novos, e adiava, enquanto podia, o fim, e o fim vinha sempre, absolutamente perfeito, num espectacular e vaidoso pontapé de bicicleta. O António de 1984 via uma bancada no meio do nevoeiro e ouvia em fundo gritos de golos, gritos de golo, gritos de golo, e dormia. 
Quando fez 10 anos o António de 1984 recebeu um gravador Crown cinzento do tamanho de um tijolo e duas cassetes virgens de 90 minutos. Em 1984 aconteceu no mundo um disco chamado The Unforgettable Fire, que o António obviamente gravou e foi aí que conheceu caminhos para novos sonhos, na música, sonhos que um dia mais tarde o levariam à descoberta das raparigas enquanto sentido da vida. Por esses dias de 1984 a fita das cassetes lambeu o álbum do princípio ao fim como se não houvesse outro disco na Terra. Sobre Pride e Bad é melhor nem alongar a conversa.

E agora que passaram 30 anos, o António de 1984, deitado no sofá, recebe no telefone o derradeiro single dos U2, vê o vídeo, percebe que afinal ainda não está farto deles, e que ainda faz sentido haver, na música, uma mensagem por cima das guitarras e da percussão.
  

Sem comentários:

Enviar um comentário

AddThis