Coisas que podiam ser assobiadas (2)

25.11.20

Um saco do Continente a tiracolo, dois sacos de plástico na mão esquerda, a carteira e um derradeiro saco de compras na mão direita. Mais detalhe menos detalhe,  uma empregada de limpeza do aeroporto do Porto chegou ao local de trabalho. “Deve vir aí alguém importante”, disse, no único momento de incontinência verbal, ao passar pelos polícias de serviço, e deve ter-lhe custado imenso conter-se, mas estavam ali demasiadas câmaras de televisão, tripés, jornalistas e até máquinas fotográficas, e ela tinha de comportar-se. De resto, nem bom dia, nem boa tarde. 

Boa tarde teria sido mais apropriado. 

A voz redireccionou a nossa atenção. Passámos, em vez do horizonte, a olhar o lado do aeroporto, encostados ao posto de sentinela. Umas calças de fato de treino escuras, provavelmente cinzentas, uma grossa camisola de lã cor de rosa, um penteado oleoso pousado na linha dos ombros, uma passada rude, um corpo pesado e baixo. Posto isto a nossa concentração profissional regressou à procedência quando as sirenes das motas da polícia se anunciaram. O autocarro do FC Porto apareceu de imediato. Certas tardes preparam-se, sobem ao palco, executam o seu número de ilusionismo, desaparecem. Magia pura.    


Sem comentários:

Enviar um comentário

AddThis