Finalmente uma boa notícia: um jornalista desempregado há quatro anos, que vive em casa dos pais, foi chamado pelo centro de emprego para uma oferta de trabalho num jornal regional. Salário: seiscentos euros. Com 32 anos, o jornalista pede dinheiro aos pais para o comboio e diz que para o almoço não é preciso, não vai ter fome. E o salário, bem bom, seiscentos euros, mais do que o salário mínimo. O jornalista passa na derradeira entrevista. É aceite pelo director, um homem que também recolhe porta-a-porta o dinheiro dos anunciantes. Assina um contrato. Está empregado. Tudo corre sobre rodas. Ou nem por isso. Tem de comprar um carro. O jornal não tem carros, não paga gasolina nem quilómetros. O director supreende-se: ó homem então você que ser jornalista e não tem carro próprio? Que raio de jornalista é você? Olhe que isto começa muito mal. Se quer cá ficar, compre um carro. E não me apareça por aí enfiado numa lata velha, que isso dá má imagem ao jornal. Compre um carro novo ou vá embora.
O jornalista está desempregado há quatro anos. Não tem dinheiro para uma entrada e os pais também não. faz um crédito a cem por cento. Escolhe um Renault Clio, versão base. Assina um crédito de 15.400 euros a pagar em 4 anos. A agência cobra-lhe 382 euros por mês. Quase 60% do salário. O resto vai para a gasolina que o jornal não paga. O seguro, feito a preço de amigo pelo agente amigo do pai, custa mais oitenta euros por mês, que os pais suportam. Com a compra do carro, o nosso antigo desempregado, somando comida e roupa, descontando renda de casa por estar com os velhotes, está agora a pagar trezentos euros por mês para trabalhar, mas pelo menos está empregado.
( no meio de tudo isto, o que mais lhe custa são os momentos em que as vozes de burro falam do baixo custo do seu Clio)
Muito bom! Muito bem, meu caro!
ResponderEliminarObrigado meu Francisco. um abraço
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