Finalmente uma boa notícia

12.10.12
Finalmente uma boa notícia: um jornalista desempregado há quatro anos, que vive em casa dos pais, foi chamado pelo centro de emprego para uma oferta de trabalho num jornal regional. Salário: seiscentos euros. Com 32 anos, o jornalista pede dinheiro aos pais para o comboio e diz que para o almoço não é preciso, não vai ter fome. E o salário, bem bom, seiscentos euros, mais do que o salário mínimo. O jornalista passa na derradeira entrevista. É aceite pelo director, um homem que também recolhe porta-a-porta o dinheiro dos anunciantes. Assina um contrato. Está empregado. Tudo corre sobre rodas. Ou nem por isso. Tem de comprar um carro. O jornal não tem carros, não paga gasolina nem quilómetros. O director supreende-se: ó homem então você que ser jornalista e não tem carro próprio? Que raio de jornalista é você? Olhe que isto começa muito mal. Se quer cá ficar, compre um carro. E não me apareça por aí enfiado numa lata velha, que isso dá má imagem ao jornal. Compre um carro novo ou vá embora.
O jornalista está desempregado há quatro anos. Não tem dinheiro para uma entrada e os pais também não. faz um crédito a cem por cento. Escolhe um Renault Clio, versão base. Assina um crédito de 15.400 euros a pagar em 4 anos. A agência  cobra-lhe 382 euros por mês. Quase 60% do salário. O resto vai para a gasolina que o jornal não paga. O seguro, feito a preço de amigo pelo agente amigo do pai, custa mais oitenta euros por mês, que os pais suportam. Com a compra do carro, o nosso antigo desempregado, somando comida e roupa, descontando renda de casa por estar com os velhotes, está agora a pagar trezentos euros por mês para trabalhar, mas pelo menos está empregado.

( no meio de tudo isto, o que mais lhe custa são os momentos em que as vozes de burro falam do baixo custo do seu Clio)

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