Appelbaum parou um rio. Suspendeu no ar meia dúzia de
folhas castanhas. As folhas são leves e isso até um homem frágil consegue
fazer. Extraordinário é um homem sem músculos ter mais força do que um caudal.
Appelbaum teve. Parou um rio com a ponta do dedo indicador. Um homem com um
telefone nas mãos pode mudar o mundo e mandar mensagens à natureza, cuidado
mãe, cresci para ti.
A força entusiasma.
O entusiasmo apressa os tempos. A fotografia saiu desfocada. Appelbaum
voltou a tocar no ecrã, na segunda vez experimentou com o anelar, como se sabe
o mais fraco dos dedos, capaz de casar, de fazer alianças e de desistir de tudo
só por estar farto. Certos dedos e
certas pessoas não gostam de repetições. Isso é mau, porque o calendário manda
os dias acontecerem uns a seguir aos outros.
Appelbaum voltou a parar um rio, suspendeu outro bando de
folhas no ar. Não mexeu nas árvores. As árvores não vão a lado nenhum.
Feliz com o resultado da imagem, beijou o ecrã do
telefone. Com os lábios descobriu um botão mágico, capaz de tirar as cores à
fotografia. Para além de ter parado um rio, suspendido as folhas, ignorado o
porte das árvores, Appelbaum retratou
Lipstadt a preto e branco, que é a melhor maneira de mandar calar as cores.
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