Arcozelo, Islândia

18.10.19
O outono regressou e agora a música do Olafur Arnalds está outra vez afinada. Consigo ver pelo postigo do escritório o maravilhoso penteado afro da tangerineira no jardim, algumas árvores chamam por mim, e nesta aprecio violinos e pianos calmíssimos quando pára de chover. Entretenho-me com a sinfonia das gotas de água na folhagem, os movimentos súbitos e as quedas, os comportamentos sedentários.
Estamos todos cinzentos: a capa do livro de jornalismo, o céu, a minha camisola e o seu carapuço, a música, a reportagem dos incêndios num televisor sem som, a almofada do sofá, a secretária, os pés da cadeira, os meus pés, a capa do suplemento cultural, a primeira página do jornal e a temperatura. Mas o verde é mais verde em tudo e mais do que tudo na relva, o outro livro em lista de espera ficou absolutamente alaranjado. A luz de outubro não faz grandes discursos, mas está atenta a todos os pormenores e deixa-os brilhar.
Tenho uma árvore no jardim. Quase não há árvores na Islândia. Num velho ditado pré-reflorestação, contado aos turistas em jeito de anedota, eles costumam dizer: “se virem na Islândia três árvores juntas, estão a ver uma floresta”. Faltam-me duas árvores para ter uma floresta. 

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