Um português (2)

19.9.12
Pouco previdente, ao português acontecem episódios diários onde o acaso faz o resto e o português entra como dedos na luva na expressão figura de urso.
Convinha lembrar que as janelas com vidros espelhados, quando vistas do exterior, não são apenas espelhos, continuam logicamente a ser janelas. E ainda que o interior não seja visível, ele existe e é como Deus, não se vê, mas está lá quando é e não é preciso.
Uma rapariga, e quem viu testemunha ser muito bonita, viu-se no reflexo da janela - um espelho para ela - e foi de pôr os dedos das duas mãos ao queixo para espremer uma borbulha. Do lado de dentro, apanhados pelo tal acaso, os restantes personagens deste instante viram-se dentro de uma sala de interrogatórrios da jundiciária, onde por acaso não estavam, e testemunharam a parte inestética de uma rapariga que se julgava em privado e afinal também não estava.
Compreender-se-á que entre tinta e laca,  pó-de-arroz e rímel, baton e sombras nas pálpebras, colares e fitas para o cabelo, na cabeça de muitas raparigas de hoje em dia, pouco espaço sobre para pensar naquilo que se está a fazer quando se está em frente a uma janela. Mas não passarão estas de considerações vagas da cabeça de homem onde pouco acontece além de gradações de grisalho do tempo, ou de cabelos que emigram todos os dias para jamais voltarem. Sobra enfim espaço para pensar melhor do assunto e fazer da realidade um espelho, projectando-a a través desta janela na internet.
O português de hoje foi afinal, uma portuguesa.

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