um português (3)

21.9.12
E tínhamos então diante de nós a prova de que os cientistas fazem evoluir o universo debaixo da saia da mãe. Quarenta ou cinquenta anos depois dos dias da cresce, a anos-luz dessa realidade, nesta sala de hospital, no presente, milhões de partículas evolutivas mais tarde, a bata branca do salva-vidas não consegue cobrir os lugares aonde o progresso ainda não conseguiu chegar. Nas pernas os mesmos chinos dois números acima, como dantes quando ainda ia crescer e a roupa tinha de durar mais do que alguns meses. No tronco uma camisa de flanela, indiferente à estação, com o mesmo problema de tamanho. À cinta um cinto furado à mão por ser demasiado grande e porque entretanto o rapaz chegou a homem sem ter engordado.
Na cabeça um bonsai cinzento, a única marca exterior aos intentos de uma mãe quando cria um filho, mas sinal de que as idas ao cabeleireiro não são fundamentais à evolução da espécie.
O senhor doutor levantou-se, pegou no microfone e falou de sangue. Na plateia, sentaram-se vários médicos, mas todos cartas mais baixas do mesmo naipe do orador. O ás estava a resolver o jogo sozinho.

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