TRÊS DIAS EM MARRAQUEXE

26.4.14


Terça-feira, 11 de Outubro de 2011
A Yamaha Mate, motorizada japonesa de 1978, com 50cc, vai passar aqui muitas vezes, tem um quadro que pode ser azul, cinzento ou verde (meu favorito), e tem um avental branco sujo, e apesar de estar a dar a informação de que ela há-de passar por aqui muitas vezes, hoje e nos próximos dois dias, não saio da daqui sem contar a vez em que a primeira, com o quadro azul, trazia sentado no banco de trás o Pauleta, com a camisola de Portugal do mundial de futebol da Alemanha em 2006, com o número nove nas costas. O Pauleta saltou para o interior de uma barbearia no instante em que a moto com quadro azul parou entre as tendas de comida e os toldos verdes da praça Jemaa El-Fnaa.
Nesta noite de terça-feira, entre o vapor dos preparados para comer, o cheiro da carne de porco, do açafrão, do caril, (e na penumbra do lugar) dois polícias conseguiram ter olhos e nariz para enxotar um engraxador de sapatos. O engraxador teve nariz e olhos para pressentir os polícias no mesmo ambiente e fugiu com a caixa e escova na mesma mão, vestia uma camisola preta com riscas finas amarelas nas mangas, tinha o emblema da real federação espanhola de futebol na clavícula direita, tinha o número um na barriga e o nome Casillas no peito. Ia com a camisola ao contrário e fugia com os olhos na nuca.
Nesta noite de terça-feira passou sem dizer nada o David Villa, com a camisola nova, a preta, do Barcelona, com o número sete. Passou despercebido, sem gel no cabelo e pareceu-me mais baixo. Cruzou-se com uma camisola principal do Barcelona 2010-11, número oito, passou por Iniesta que não estava a ficar careca e que era moreno. Cruzaram-se como se não soubesse um quem era o outro. Sentado na escuridão do chão, com a camisola azul e branca da argentina, o Gabriel Heinze vendia souvenirs e guardanapos.

Quarta-feira, 12 de Outubro de 2011
Não conseguiu passar despercebido entre dois raios de sol num souk, esta manhã: um Didier Drogba branco, camisola do Chelsea, azul, número onze, de braço dado com a mãe, uma senhora vestida com panos rosa, um lenço na cabeça e um chapéu branco em cima do lenço, que era rosa.
Não conseguiu passar despercebido, sentado ao guiador de uma MBK Variateur Swing, a pedais, o Bastian Scheweinsteiger, na camisola vermelha do Bayern de Munique. Nem ele olhou para o Cristiano Ronaldo, com o número nove e a camisola preta do primeiro em Madrid, encostado à porta de loja, a vender sapatos em pele e marcadores para livros, nem o Cristiano Ronaldo olhou para ele.
Nesta quarta-feira, mas à noite: o Alexis Sanchez passeava a pé com um amigo, tinha o número nove na camisola preta do Barcelona. O semáforo estava vermelho, o Frank Lampard não o respeitou e seguiu em frente, a espreitar o cruzamento, os carros, as motos, o perigo, mas seguiu em frente. Empurrava um carro de mão cheio de caixas de cartão amassadas. Tinha o número oito nas costas da camisola azul do Chelsea.
 Nesta quarta-feira, mas à noite, o Javier Pastore, camisola branca do PSG, numa Yamanha Mate de quadro verde ( o meu preferido) parece que já não conhece ninguém. Passa pela multidão com o olhar fixo muito longe no horizonte.
Nesta quarta-feira, mas à noite: o David Villa agora tem 1,90m, está a beber um café, veste a camisola do Barcelona 2011-12. Assomam de um beco onde existe o Café Aràb o Ozil de camisola preta, cabelo curto, e número dez e o Cristiano Ronaldo de peito para fora e cabelo à Cristiano Ronaldo com uma camisola branca com um sete dourado.

Quinta-feira, 13 de Outubro de 2011
Calção Kappa preto. Camisola da selecção de França número vinte e dois.  Sentado no suporte para as compras de uma MBK Swing Variateur, a pedais, parada num semáforo vermelho. Sem cicatriz. É o Frank Ribéry. Ao lado há uma rotunda. Ao lado da rotunda existem três camelos sentados.
No aperto de um souk mais apertado, sem luz directa, vem de frente um burro branco, o burro puxa um atrelado, o atrelado e o burro são guiados pelo Samuel Eto´o, que vem em pé em cima do atrelado, a guiar o burro com duas cordas, vestido com a camisola nove do Barcelona. O Eto´o.
Chega-se para cá o Totti, camisola dez gialorrossa, numa MBK Swing Variateur; anda por aqui um Benzema preto, que está a fumar e que tem a camisola nove, branca, do Real Madrid.
É meio-dia, o sol queima a cabeça, o Xavi atravessa a rua com balde de água na mão. Veste a camisola 6 do Barça 2010-11. Está mesmo muito calor.
Está sentado num mocho, num banco de madeira, o Fernando Torres, moreno, com bigode, com pêra, com cabelo preto, com dedos feios e chinelo no pé. Camisola nove, branca, do Liverpool.
Outro Ozil com o cabelo curto, mas com camisola branca e dez dourado nas costas. Um Buffon de manga curta, manga rosa e número um. O dezoito é outra vez o Heinze, da Argentina, está a percorrer a praça ao lado de um amigo com um chapéu vermelho. E um Simone Pepe, vinte e três da Juventus, raquítico, de 1,90m, avistado a partir daqui, do Restaurante Panoramique.
No aeroporto, um homem anónimo com a camisola do Arsenal sem nada nas costas. Acaba de chegar a Marrakech. É marroquino. Acredito que vá escolher o número vinte e nove e que vá mandar escrever o nome Chamakh.
Isto aconteceu mesmo assim. E vim embora.

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